sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Profissional de Logística (*)

Quando aceitei o convite para escrever neste espaço, surgiu imediatamente a dúvida sobre qual o primeiro tema a abordar, afinal, a logística se caracteriza pela sua grande dinâmica e pelo seu envolvimento com diferentes áreas de uma organização, o que torna seu campo de atuação, e conseqüentemente as possibilidades de discussão a respeito, muito amplas. Depois de muita reflexão, optei por uma abordagem “histórico-humanista”, destacando como ela foi concebida e quais as características necessárias aos profissionais que labutam diariamente nesta imprescindível atividade.

Inicialmente, devemos lembrar que a logística - apesar de ser descrita e utilizada em atividades de guerra desde a idade moderna – é um fenômeno relativamente novo como campo de trabalho organizado e formal dentro das empresas, governos e demais entidades que dela necessitam. Somente no início do século passado é que os pesquisadores voltaram suas atenções para ela, e na prática, é após o êxito das campanhas militares na II Guerra Mundial que a organização da logística passou a ser de fato compreendida e utilizada como atividade comercial estratégica.

Até então, diferentes funções eram exercidas de forma autônoma nas empresas. Atividades de compras, gestão de estoques e transportes, só para citar algumas, possuíam interesses próprios (e muitas vezes conflitantes) em uma mesma organização.

A partir da percepção da possibilidade de obtenção de vantagens reais com a integração de atividades até então independentes, a tendência natural foi o aproveitamento de profissionais já alocados nestas áreas como responsáveis pelo novo setor de logística.

Este processo iniciou um longo e gradual ciclo de desenvolvimento dos profissionais de logística, que primeiro tiveram que adaptar-se a uma nova realidade, para depois aprofundarem e ampliarem os seus conhecimentos, construindo as bases práticas dos conceitos hoje utilizados.

Com a expansão e a crescente importância da área dentro das organizações, surgiu também o interesse de pesquisadores de diferentes segmentos, que através de estudos impulsionaram e consolidaram a formação de um referencial teórico importante para o entendimento da logística. Isto, junto à prática profissional já existente, resultou em um vasto campo de análise.

Este processo consolidou o entendimento da logística como um dos mais importantes elementos de desempenho não só das organizações, mas de toda a sociedade. Hoje, a sua difusão nas atividades empresariais e o interesse em torno do tema geram, periodicamente, novas pesquisas, descobertas e melhorias que interferem positivamente no dia-a-dia de quem a utiliza.

A partir desta contextualização histórica, é possível agora passar ao objetivo principal do texto, pois aos profissionais ou aos estudantes com ambição de trabalho no campo da logística, este processo de desenvolvimento - que continua acontecendo -, deixa várias lições sobre quais características são indispensáveis para se atuar na área com desempenho satisfatório.

O primeiro ponto, e talvez o mais importante, é a capacidade de ter uma visão sistêmica, que significa compreender os processos logísticos como um sistema complexo e inter-relacionado, onde ações em determinada área causam reflexos em outra. Entender esta interdependência e planejar as atividades em função dela é componente essencial das atribuições de um profissional de logística.

Segundo, é necessária uma compreensão clara de toda a cadeia de abastecimento em que o negócio está inserido, pois não basta trabalhar os processos logísticos dentro da organização se os participantes externos do canal (tanto à montante quanto à jusante) não cooperarem na obtenção do desempenho desejado.

Este processo não envolve apenas áreas de atuação comuns à logística, mas também outras atividades como Marketing e Finanças, o que demonstra a necessidade do terceiro item da lista, um sólido conhecimento técnico, preferivelmente no âmbito da Administração de Empresas, englobando tanto as operações logísticas como as demais atividades de uma organização.

Quarto, uma forte base de conhecimentos tecnológicos é altamente recomendada, pois cada vez mais as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) são ferramentas essenciais ao planejamento e gestão de atividades complexas que envolvem a logística, além de serem essenciais na troca de informações com os envolvidos nos processos logísticos.

Por último, a habilidade de relacionamento interpessoal é uma característica indispensável ao profissional de logística, visto que suas atividades afetam e são afetadas por diversas áreas da organização e por membros externos da cadeia de abastecimento, o que exige constante processo de negociação e análise, tratando com diferentes pessoas de níveis hierárquicos também distintos. Além disso, tornar claro quais os preceitos e os objetivos do sistema logístico ajuda a conscientizar todos sobre a sua importância, além de facilitar a apresentação e conscientização sobre os caminhos que devem ser seguidos de forma conjunta.

É claro que outros itens poderiam ser acrescentados a esta lista, mas estes cinco pontos centrais já demonstram de forma inequívoca que ser um profissional de logística requer muito esforço, dedicação e estudo.

E a quem escolheu ou está pensando em escolher este caminho, só posso dizer: parabéns! Trata-se de uma atividade importante e que esta apenas iniciando em nosso país, com um grande potencial para desenvolver social e economicamente nossas empresas e nossa nação.

(*) Este texto foi publicado originalmente em minha coluna no site Transporte, Carga e Logística.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Novidade

Agora também sou colunista do site Transporte, Carga e Logística.
http://www.transportecargaelogistica.com.br/

Em breve publicarei a minha primeira coluna aqui no blog também.

ATUALIZAÇÃO 28/02/2008
A coluna já está no ar no site e publicada aqui no blog.
Todos os textos que escrever para o site estarão aqui com o marcador "Colunas".

E hoje o blog chega a 1000 visitas. Número modestíssimo ainda, é verdade, mas significativo para quem começou há tão pouco tempo.

Obrigado.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Privatizar ou não privatizar? Eis a questão


Em um post anterior, já comentei rapidamente sobre a concessão à iniciativa privada de alguns trechos de rodovias federais que ocorreu no final do ano passado.
Desde o leilão, o tema continua dominando boa parte do noticiário especializado, sobretudo devido às diferenças no modelo adotado pelo governo atual em comparação aos mecanismos utilizados anteriormente. Isto dá margem para uma nova abordagem ao tema.

Entendo que houveram dois avanços importantíssimos que precisam ser destacados:
O primeiro é o novo modelo adotado, que prioriza o menor preço ao usuário final do sistema. Trata-se de uma medida inteligente e que pode servir como um novo "marco" para futuras concessões.
Mas é importante observar com atenção os movimentos decorrentes desse processo, pois além das discussões já surgidas sobre a viabilidade ou não da realização de serviços de qualidade, devido ao baixo preço do pedágio proposto para alguns trechos, precisamos lembrar que os bastidores governamentais em nosso país tem diversos meandros que não são conhecidos do grande público, onde ações políticas muitas vezes se sobrepõem às iniciativas administrativas. Assim, fica a incerteza quanto a futuras "retificações" ou "revisões" de contrato, que de algum forma modifiquem os valores leiloados. Se ocorrerem, veremos como a justiça, o ministério público e a sociedade reagirão.

O segundo ponto, que considero o mais relevante para os profissionais de logística, é a concessão em si, pois durante 5 anos o governo federal sempre demonstrou uma espécie de má vontade em relação à privatização de serviços públicos.
Sabemos da escassez de recursos disponíveis para investimentos em infra-estrutura no Brasil. Sem o apoio da iniciativa privada (que aliás é ávida por estes serviços), dificilmente haverá condições do país consolidar taxas de crescimento que o mantenha entre as principais economias do mundo.
Além disso, o desenvolvimento previsto a partir das concessões abre um grande campo de trabalho para profissionais especializados em logística, pois seus conhecimentos técnicos e visão sistêmica serão indispensáveis para o planejamento e execução das obras previstas.

Estamos diante de um momento decisivo, a janela de oportunidade foi aberta. O desejo que fica é que esta concessão não tenha ocorrido como uma experiência isolada e que não terá continuidade, mas que represente uma nova fase na política de desenvolvimento em nosso país.

A sociedade, as empresas, e os profissionais de logística desde já agradecem!