quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Estratégia de gestão de estoques

A notícia a seguir, publicada na Gazeta Mercantil, merece uma análise sob a ótica da logística:

China planeja elevar seus estoques

A China planeja aproveitar a queda na demanda global para aumentar suas reservas de petróleo, prevenindo-se contra choques de oferta no futuro, à medida que acelera o desenvolvimento dos setores de energia nuclear e eólica e reduz a sua dependência do carvão, disse Zhang Guobao, chefe da Administração da Energia Nacional.

Ao falar sobre as respostas do país à crise econômica global em uma rara exposição detalhada da estratégia energética chinesa, Guobao disse: "A gravidade do declínio econômico trouxe uma forte queda na demanda por petróleo e uma pressão sem precedentes sobre os preços. A quantidade de petróleo bruto no mercado internacional ainda excede em muito a demanda global".

Em artigo publicado na segunda-feira no jornal oficial "Diário do Povo", Guobao escreveu que o declínio global impôs sérios desafios ao setor energético chinês, mas também trouxe a rara chance de fazer ajustes.

Entre outros planos, a China seguirá com o desenvolvimento da segunda fase do plano de acúmulo de reservas estratégicas de petróleo, com a primeira fase já praticamente finalizada, disse Guobao. Isso pode aumentar a demanda por importações e ajudar a aumentar os preços globais do petróleo bruto, que têm registrado quedas após atingir o pico de alta em julho.

O governo não revelou se completou totalmente os reservatórios da primeira fase, construídos em quatro locais, com capacidade para 102 milhões de barris, o equivalente a 29 dias de importações de petróleo bruto, com base no comércio médio até agora este ano.

As duas primeiras bases, em Zhenhai e em Zhoushan, estão em funcionamento há mais de um ano. A construção do reservatório de Dalian, a quarta base, deveria acabar no fim do ano. Embora não esteja claro se o chefe da Administração da Energia Nacional se referia à construção ou ao enchimento dos tanques, as palavras aumentaram os sinais de que a China ao menos começou a encher a terceira base, em Huagdao.

Fontes da indústria disseram à "Reuters" que foram injetados cerca de 7,3 milhões de barris de petróleo em Huagdao no começo de novembro e eram planejadas mais estocagens em dezembro e janeiro. As fontes disseram que mais da metade do petróleo de novembro foi proveniente da Arábia Saudita.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Reuters)

A gestão de estoques é uma das principais funções da logística. Academicamente, em cursos como administração de empresas, esta relevância é caracterizada pela existência de disciplina específica para tratar do tema, normalmente nomeada "Administração de Materiais".

Sob este aspecto, o que chama a atenção na notícia e que merece destaque, em minha opinião, é justamente a conotação da estratégia chinesa de elevação de estoques., pois devido as grandes pressões comerciais e de redução de custos é comum, atualmente, ensinar-se na academia justamente o oposto, ou seja, que a melhor estratégia é a manutenção dos estoques à níveis mínimos.

O exemplo chinês apresenta um contexto diferente, em que a conjuntura macro-econômica sugere que a elevação de estoques pode ser uma estratégia vencedora, pensando em um planejamento de longo prazo.

Em tempos de incerteza como o que presenciamos, a política das empresas costuma ser de redução de gastos e investimentos. Entretanto, aqueles que disporem de recursos e se propuserem a pensar no futuro podem, neste momento, aproveitar as oportunidades existentes para melhorar suas posições de estoques de materiais estratégicos, e consequentemente, ficar um passo à frente do mercado quando os tempos de bonança voltarem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Douglas, sem dúvida que a gestão de estoques é de suma importância em qualquer atividade comercial.

Mas no que tange a estoques nem sempre a melhor estratégia é a manutenção dos estoques à níveis mínimos. Isso é paradigma acadêmico.

Com este pensamento as áreas comerciais e de logística estão trabalhando estanques. Onde estão as equipes que estudam e elaboram as projeções de mercado e preços?

Mercado e preço é que determinam o nível ótimo de estoque.

No mercado de petróleo e derivados não é diferente. Como houve uma redução da demanda mundial, que foi substancial no maior consumidor (os EUA), o preço despencou (fundamento de oferta e demanda). A conta que o Chinês está fazendo todos que atuam nesse mercado fazem: "vale a pena comprar agora, estocar e desovar mais tarde?".

Para alguns pode valer a pena e para outros não. Dependerá das expectativas de cada um com relação a preço e à demanda.

Por exemplo, os EUA são importadores líquidos de gasolina. Durante o verão americano a demanda de gasolina passa por um pico de demanda (jul/ago). Nessa época, o preço sobe no mercado internacional. Então a estratégia dos refinadores americanos é maximizar a produção já a partir do outono e estocando para desestocarem no verão.

Como estou afastado do mercado e os preços de óleo cru e produtos caíram muito, pode ser que neste ano os EUA nem precisem se estocar em gasolina.

Abraço

André Luiz

Anônimo disse...

Douglas, me enganei. Não é outono é na primavera do hemisfério norte: abril e maio.

valeu!!

Douglas Heinz disse...

Olá André, é um prazer receber seus comentários.

Concordo com sua posição sobre a manutenção dos níveis de estoque.

Aliás, a idéia deste post foi justamente mostrar que estoque mínimo nem sempre é a melhor opção, sobretudo em mercados complexos e com preços determinados por questões geopolíticas e de economia global.

Suas observações foram muito pertinentes. Agradeço a participação.